Mesmo entre os profissionais de saúde, infelizmente, há pessoas que acreditam que o alcoolismo é desvio de caráter, defeito moral; muitos profissionais ainda relutam em entender o verdadeiro conceito de alcoolismo, uma doença relacionada no CID – Código Internacional de Doenças. É importante, ainda, salientar que não só trata-se de uma doença, porém a que mais mata no mundo, quando consideramos as consequências da mesma, como crimes, acidentes, e todas as circunstâncias às quais a pessoa alcoólatra expõe a si mesma e a outrem.
Alcoolismo, enquanto doença, é definida como a falta de controle do ato de beber. Analisando esse conceito, fica fácil perceber os mitos que o cercam, ou seja: alcoólatra não é, necessariamente, quem bebe todos os dias ou todos os finais de semana, nem quem ocasionalmente “toma um porre” (quem nunca?)
Alcoólatra é quem não consegue perceber o momento de parar, em qualquer oportunidade que tenha para beber. É quem procura o álcool em primeiro lugar, quem não consegue, por exemplo, ir a festas onde não haja álcool, apenas para citar alguns exemplos. Essa impossibilidade não vem da falta de vontade, mas da falta de um mecanismo cerebral responsável pela sensação de saciedade.
Antes de tudo, o alcoólatra geralmente tem sérios problemas de adaptação social que ele sente como menores quando bebe. Isso o faz procurar o álcool, em suas diferentes formas, sempre em que esteja em situações nas quais se sente inibido, tímido e/ou de alguma forma atemorizado. O álcool age diretamente no sistema nervoso central, fazendo com que a pessoa tenha uma sensação de fuga da realidade e, sobretudo, relaxamento. Beber cria um verdadeiro “paraíso químico”, onde a pessoa sente-se mais leve e mais confiante em seus relacionamentos sociais. O problema é que, com a repetição frequente dessa sensação “confortável”, a pessoa pode desenvolver a doença que é o alcoolismo, de efeitos nocivos inclusive do ponto de vista social, e que é muito difícil de detectar, até porque a evolução, desde os primeiros sintomas, é muito longa. O paraíso, aos poucos, se transforma em inferno, tanto para o alcoólatra como para as pessoas mais chegadas, sobretudo para sua família.
O fator hereditário do alcoolismo tem sido aceito entre os pesquisadores, principalmente pela descoberta, há cerca de 20 anos, do elemento que os cientistas chamaram de THIQ. Trata-se de uma enzima presente em cérebros de alcoolistas, e ausente nos chamados “bebedores sociais”, ou seja, as pessoas que conseguem beber até o ponto da saciedade, e então parar. Essa enzima, ainda em estudo, seria a responsável pela anomalia no metabolismo do álcool etílico, exatamente no que diz respeito à falta de controle, ou ausência de saciedade. Assim, nos alcoólatras, o consumo de álcool não é metabolizado da mesma forma que nos “bebedores sociais”. Aparentemente, eles não passam pela fase da transformação do álcool em acetato, momento em que se dá a saciedade.
A enzima THIQ foi descoberta por uma pesquisadora do Texas, USA, e explica por que não adianta, para os alcoólatras, tentar trocar um tipo de álcool por outro (o destilado pelo fermentado, por exemplo), como também adianta tentar “aprender a beber”. Essas medidas podem ser paliativas, a princípio, mas a médio e longo prazo tornam-se infrutíferas. Os grupos de auto-ajuda, como NA e AA, bem como as psicoterapias, sobretudo as cognitivas comportamentais, sabem disso, e usam técnicas que visam a abstinência total como única forma de controle do alcoolismo, embora incluam também outras drogas, visto que o álcool muitas vezes é o “gatilho” que, para algumas pessoas, leva à cocaína, heroína, alucinógenos, etc.
Nesses grupos, o alcoólatra é auxiliado a manter-se abstêmio por pessoas que já passaram pelo problema e venceram, ou ainda lutam e vencem. Também as famílias são atendidas, porque é indispensável uma orientação correta para as pessoas que convivem estreitamente com um (a) alcoólatra. Nessa orientação, a base não é ignorar o problema, mas também não fazer com que toda a vida da família esteja centrada na doença de um dos membros, o que é muito comum.
Infelizmente, nossa sociedade é contraditória, na medida em que, ao mesmo tempo que condena e marginaliza o alcoolista, incentiva o uso do álcool para os diversos momentos de alegria, comemorações, tristeza, relacionamento social, etc. A verdade é que, enquanto o alcoólatra não tomar contato com sua doença e realmente quiser se libertar dela, ele vai sofrendo vários problemas de saúde, tanto físicos como psicológicos, além de vitimizar sua própria família, porque o alcoolismo é também uma séria doença social. Segundo os especialistas, para o alcoolismo não há cura, ainda, mas há controle. E quem conseguiu esse controle (eu mesma sou testemunha de diversas pessoas que conseguiram), através de qualquer meio disponível, experimentou, em todos os aspectos, um novo nascimento.
GRUPO RENASCER DE ALCOÓLICOS ANÔNIMOS. AV. ITABUNA 1362. ENTRADA DO MALHADO. REUNIÕES DE DOMINGO À SEXTA AS 19:H. O ALCOÓLISMO É UMA DOÊNÇA , EVITE O PRIMEIRO GOLE.. FONE. 988242383.
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