O policial reformado Ronnie Lessa, 48 anos, preso pelas mortes da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes nesta terça-feira (12), traçou estratégias para não ser identificado pelo crime. Entre elas, ele usou uma espécie de "segunda pele" no dia do atentado. O material, usado nos braços, serviria para dificultar o seu reconhecimento no futuro, segundo informações do G1.
Além disso, Lessa usou um telefone “bucha” (comprado com o CPF de terceiros, para não ser rastreado), de acordo com reportagem do jornal Extra. E o telefone que é registrado nome de Lessa no dia do assassinato foi usado por uma mulher na Zona Sul do Rio. O objetivo era despistar a polícia, caso as antenas de telefonia fossem verificadas para identificar se o celular pessoal de Lessa estava no local do crime.
Ainda de acordo com o jornal, a investigação acabou cruzando os dados das antenas das estações de rádio-base (ERBS) na região do crime para traçar uma localização exata. A pesquisa resultou em uma lista extensa de telefones da saída da Câmara dos Vereadores até o local da emboscada, no Estácio.
Com base nas imagens de câmeras, a luz de um celular aparece acesa dentro do Cobalt prata, onde estavam os executores. Com o registro do momento em que o celular estava em uso, a polícia fez uma nova triagem na lista de celulares e descobriu que um deles fez fcontato com uma pessoa relacionada a Lessa.
Depois disso, a polícia investigou os dados em nuvem do policial e encontrou a agenda de eventos de Marielle.
Perfil
Ronnie Lessa era egresso dos quadros do Exército e foi incorporado à Polícia Militar do Rio em 1992, atuando principalmente no 9º BPM (Rocha Miranda), até virar adido da Polícia Civil, trabalhando na extinta Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (DRAE), com a mesma função da atual Desarme, na Delegacia de Repressão à Roubo de Cargas (DRFC) e na extinta Divisão de Capturas da Polinter Sul.
Segundo o Extra, no dia 27 de abril de 2018, Lessa e um amigo bombeiro foram atacados na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Um homem de motocicleta teria abordado o carro onde viajavam, mas os dois reagiram e balearam o criminoso, que fugiu. O policial reformado foi atingido, levado ao hospital, mas saiu sem prestar esclarecimentos.
Em 2009, Lessa foi vítima de um atentado, em Bento Ribeiro, quando uma bomba explodiu dentro da Toyota Hillux blindada que dirigia. Ele escapou da morte, mas perdeu uma das pernas, sendo obrigado desde então a usar uma prótese.
Operação
Além de Lessa, também foi preso o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, que dirigiu o Cobalt usado no crime. Ele foi preso em casa, na Rua Eulina Ribeiro, no Engenho de Dentro, Rio de Janeiro.
Segundo o Ministério Público, as prisões ocorreram por volta das 4h durante a Operação Lume, realizada na residência dos suspeitos. Os dois foram denunciados depois de análises de diversas provas. Lessa teria sido o autor dos disparos de arma de fogo e Elcio, o condutor do veículo Cobalt utilizado na execução. O MP informou que o crime foi planejado de forma meticulosa durante os três meses que antecederam os assassinatos
Além dos mandados de prisão, a Operação Lume cumpre mandados de busca e apreensão em endereços dos dois acusados para apreender documentos, celulares, computadores, armas, munições e outros objetos.
Na denúncia apresentada à Justiça, o Gaeco/MP-RJ também pediu a suspensão da remuneração e do porte de arma de fogo de Lessa, a indenização por danos morais aos parentes das vítimas e a fixação de pensão em favor do filho menor de Anderson até completar 24 anos de idade.
Segundo o MP, o nome da operação é uma referência a uma praça no centro do Rio, conhecida como Buraco do Lume, onde Marielle desenvolvia um projeto chamado Lume Feminista. No local, ela também costumava se reunir com outros defensores dos direitos humanos e integrantes do seu partido, o PSOL.
"Além de significar qualquer tipo de luz ou claridade, a palavra lume compõe a expressão 'trazer a lume', que significa trazer ao conhecimento público, vir à luz", informa o comunicado do MP. "É inconteste que Marielle Francisco da Silva foi sumariamente executada em razão da atuação política na defesa das causas que defendia", diz a denúncia, acrescentando que a ação foi um golpe ao Estado Democrático de Direito.
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