O clima era de Fla Flu, com torcidas opostas, mas também podia ser comparado de certo modo com o Réveillon de Copacabana. Aglomerados na beira do rio, vários visitantes da Flipei (Feira Literária Pirata das Editoras Independentes), casa parceira da Flip, assistiam aos fogos lançados do outro lado da margem por manifestantes contrários à presença do jornalista americano Glenn Greenwald. Só que, em vez de aplaudir, os espectadores vaiavam.
Greenwald foi saudado com ares de herói por uma multidão nesta sexta-feira (12), ao som de uma versão hardcore de "Bella Ciao". Greenwald chegou de lancha ao barco no qual participaria de um debate, como parte da programação da Flipei, casa parceira da Flip, por volta das 19h. Eram convidados também do evento o humorista Gregório Duvivier, o sociólogo Sergio Amadeu, e o escritor Alceu Castilho.
"Não precisa ter medo do governo. A máscara de Sergio Moro caiu para sempre", disse Glenn Greenwald, sob aplausos, logo no começo da mesa "Os Desafios do Jornalismo em Tempos de Lava Jato", com a voz encoberta por uma versão remixada do hino nacional tocada pelos protestantes.
"O Lula tá preso. Ele é bandido, ele tá preso", gritava uma voz do outro lado do rio. "Você vai ser preso!".
Mesmo diante da pressão, Greenwald avisou que não pretende sair do Brasil. "Sou casado com um brasileiro que eu amo mais do que tudo. Nós temos dois filhos brasileiros que adotamos. Somos uma família completa, cheia de amor e felicidade, como todos podem ser, inclusive os jovens LGBT neste país. Posso sair do país a qualquer momento, só que eu não estou fazendo isso, nem vou fazer. Porque 15 anos atrás eu me apaixonei pelo Brasil", disse.
O jornalista mencionou, também, uma frase que seu marido, o deputado David Miranda, teria dito antes de assumir o mandato. "Ele disse: 'não vou me esconder, vou concorrer à casa onde os milicianos que mataram Marielle Franco trabalham'. Isso é coragem".
"A próxima vítima do Moro vai ser o Glenn", interrompeu um manifestante. Além das provocações, o grupo contrário à presença de Greenwald também lançou fogos de artifício em direção ao barco da Flipei. "Se eles estão apontando rojão pra gente, a polícia do outro lado está deixando", opinou a socióloga Sabrina Fernandes, que atuava como mediadora.
Greenwald aproveitou a ocasião para revelar em que pé estão os trabalhos de apuração do The Intercept Brasil a respeito das mensagens trocadas pelo ministro da Justiça Sergio Moro com integrantes da Lava Jato, enquanto ainda era juiz.
"Estamos muito mais perto do começo do que do final. Temos muito mais para revelar. Quando perceberam a importância do material, todos os jornalistas do Brasil nos procuraram querendo trabalhar com a gente como parceiros. Todos, menos um: a Globo. Para os jornalistas da Globo, é um crime fazer jornalismo", avalia o americano.
"Jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados, como já dizia Millôr Fernandes", completou Alceu Castilho. "As pessoas do outro lado do rio querem desinformar. Eles são quem usa o WhatsApp. A rede não distribui só democracia, ela distribui mentiras. Ela concentra o poder, mas pode permitir que a gente trave a nossa batalha. Não podemos mais ficar acomodados. Temos que fazer da informação a nossa principal aliada", disse Sergio Amadeu.
Ao ser perguntado por Sabrina sobre a indicação de Alexandre de Moraes para o STF, Gregório Duvivier definiu o ministro como "Voldemort do Supremo", em referência ao vilão das histórias de Harry Potter.
Conteúdo Folhapress
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