É mais provável se contaminar no hospital do que na igreja, diz líder evangélico

Pastor Gilmar Bonfim

Maurício Maron

Um decreto municipal assinado pelo prefeito Mário Alexandre, autoriza que, a partir do próximo dia 31, as igrejas, templos, centros espíritas e terreiros do candomblé poderão reabrir ao público. De origem evangélica, credita-se ao prefeito o fato de ter sofrido uma certa pressão dos pastores para autorizar a reabertura. Para alguns, até uma precipitação. Para outros, o momento certo. No segmento, para além da acolhida espiritual, o prefeito também conta com um bom trânsito político que trafega para a reeleição deste ano.

Mas a reabertura entre os evangélicos não é unanimidade. Algumas denominações discordam do retorno neste momento de pandemia e já se posicionaram contrárias à volta dos cultos presenciais enquanto persistir a Covid-19 a atormentar a vida dos ilheenses.

Pastor da Igreja Batista Missionária e presidente da Associação dos Ministros Evangélicos (AMEI), entidade que agrega 55 igrejas e as suas congregações, Gilmar Bonfim não quer causar polêmica sobre este debate. Logo que entramos em contato com ele, a primeira decisão era de se manter em total silêncio e deixar as coisas acontecerem. Mas, logo depois, aceitou falar com exclusividade ao Jornal Bahia Online.

O pastor Gilmar Bonfim foi entrevistado esta tarde pelo jornalista Maurício Maron, editor do site. Na conversa pastor Gilmar garante que todas as medidas estão sendo tomadas para assegurar a total segurança dos fieis. Fala que respeita a decisão das igrejas que optaram por permanecer fechadas e afirma que 70 por cento delas em Ilhéus irão reabrir as portas no próximo domingo.

Para o pastor, a chance de pegar a Covid-19 é maior nos supermercados, nas filas lotérias e, até, em hospitais de Ilhéus, do que em espaços de oração devidamente preparados para receber os fieis em tempos de pandemia.

Confira.

Deste total de pastores, quantos vão aderir à proposta de reabertura imediata dos templos, atendendo ao que determina o decreto municipal?

Acredito que vá chegar a 70 por cento deles.  Três pastores que digam, ´não, eu não posso ir agora´, é quase insignificante, mas nós respeitamos a decisão.

O senhor diz que durante a negociação não houve reação contrária dos pastores. Mas agora alguns decidiram seguir com o isolamento. A que o senhor atribui essa reviravolta?

Talvez seja a falta do conhecimento técnico que norteou nosso debate pela reabertura junto ao Gabinete de Crise da Prefeitura e o Ministério Público. A AMEI, junto com a Assembleia de Deus, junto com a Igreja Universal, a Assembleia de Deus Apostólica... todos nós tivemos um acompanhamento técnico durante 30 dias. Fizemos várias reuniões onde apresentávamos propostas. A última foi levada ao MP, de permissão de ocupação máxima de 30 por cento da capacidade da igreja, com todas as restrições e protocolos exigidos pelos órgãos de saúde.

A igreja hoje tem uma possibilidade de contaminação muito menor do que a UPA (Unidade de Pronto Atendimento), os hospitais, as feiras, as lotéricas.

Isso basta?

Deixa eu falar bem técnico para você. O governador não proibiu o funcionamento da igreja. Foi uma decisão municipal, aí sim, apoiada pelo governador, que permitiu que, no máximo, 50 pessoas se reunissem na igreja. Então a igreja é um bem de utilidade. Não é para aglomeração. Hoje, por exemplo, quando nós abrirmos a igreja, está bem espaçado, bem trabalhado, o membro vai chegar na frente da igreja, vai ser direcionado pela diaconia até uma pia, com máscara, luva, tapete com água sanitária e o espaço está ali. O culto será reduzido para apenas uma hora sem contatos, abraços e uma saída organizada.

O que, efetivamente, leva os senhores a reivindicarem com tanta veemência a reabertura imediata das igrejas?

O isolamento – está comprovado – também traz muitas doenças na vida das pessoas. Então vem a ordem: fique em casa. E depois ele não faz um exercício, não toma um sol, não tem outros contatos... Para nós, evangélicos, a maior alegria é estar na igreja, né. Então é importante este contato, mesmo que a pessoa venha uma vez na semana. O que o Ministério Público e o Gabinete de Crise reservaram para nós foram dois dias de culto. Um domingo e escolher um dia da semana onde as pessoas poderão participar. Eu estou falando para vocês: todas as decisões foram baseadas em normas técnicas. Não teve canetada do prefeito. É bom que eu diga isso aqui. Chegamos apenas ao momento técnico que nos informou: vocês podem recomeçar. Foi por aí.

Para nós, evangélicos, a maior alegria é estar na igreja, né. Então é importante este contato, mesmo que a pessoa venha uma vez na semana.

Mas esse contato já ocorria com celebrações online, virtuais, exibidas nas redes sociais... isso não daria a mesma resposta do presencial, já que a missão seria acalmar as almas, o coração dos fieis?

Não tem. A gente sente isso neles. Eu acho que pelo fato de estar bem protegido, organizado, limpo, tendo um encontro com a gente, estando mais perto, aquilo vai trazer uma alegria maior, mesmo que momentâneo. Fico pensando: as pessoas às vezes são contra a abertura de uma igreja, de um centro espírita, de uma casa afro... mas é a favor de estar no mercado? A favor de estar na feira? É a favor de estar na fila da lotérica? As pessoas também deveriam pensar de  não poder ir lá. Por que lá tem um ser humano igual a mim, a você, igual a quem está pensando que a igreja não pode abrir. Mas a pessoa vai lá! Ninguém pode ficar eternamente dentro de casa.

O senhor fala de ocupação máxima de 30 por cento da capacidade dos templos. Mas as pessoas serão convidadas. Se ultrapassar o limite elas serão retiradas? Por que é assim: o controle é da igreja. Mas a fiscalização cabe à Prefeitura, que não terá como fiscalizar 400 igrejas ao mesmo tempo.

Por exemplo. Lá na Igreja Bastista Missionária, nós temos um público para 350 pessoas. Reduzimos para 50. Com antecedência estamos usando um recurso de seleção, via whatsApp. As pessoas se inscrevem antecipadamente e, à medida em que for se inscrevendo pro culto a gente vai sabendo o tamanho do público. Quando chega no limite, acabou, então fica para o outro culto. Então não tem quantidade de pessoas que irão ultrapassar ao limite.

A igreja é um bem de utilidade. Não é para aglomeração. Hoje, por exemplo, quando nós abrirmos a igreja, está bem espaçado, bem trabalhado, o membro vai chegar na frente da igreja, vai ser direcionado pela diaconia até uma pia, com máscara, luva, tapete com água sanitária e o espaço está ali. O culto será reduzido para apenas uma hora sem contatos, abraços e uma saída organizada.

Quem efetivamente do segmento evangélico decidiu prosseguir com o isolamento?

As mais conservadoras. Eu honro muito essas pessoas pelo direito que elas têm. O direito democrático de chegar e dizer ´Gilmar, eu acho que não está na minha hora´, entendeu. Então eu tenho que chegar e respeitar essas pessoas com muito carinho, por que são amigos da gente, pessoas que convivem com a gente. Nessa hora não tem esse sentimento de ´ah, eles não vieram´.

O senhor não acha que aumenta a responsabilidade de vocês ao decidirem por essa retomada sem que tenham unanimidade sobre a decisão? Por exemplo: e se alguém se contaminar numa circunstância de ter ido à igreja?

A igreja hoje tem uma possibilidade de contaminação muito menor do que a UPA (Unidade de Pronto Atendimento), os hospitais, as feiras, as lotéricas... Por que você vai vir limpo, com distanciamento. As pessoas não vão estar se pegando, se abraçando. Então é uma diferença muito grande. Não vai ter multidão. Nós vamos obedecer as determinações da Prefeitura e do Ministério Público. Vai por aí o caminho.

Do Jornal Bahia Online
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