Continuando a reflexão sobre esse momento sublime de nossa adolescente Democracia, tenho que lembrar como norte de reflexão, que uma das características da forma de governo republicana é exatamente a participação popular e sua representatividade. Então, me atrevo a colocar em questão o voto livre de imposições ou pressões de quem detém a máquina pública.
Como historiador, há uma imediata relação com o coronelismo que sustentava o predomínio das oligarquias(sistema político concentrado na mão de poucos) no tempo da Velha República. Como elite “endinheirada” daquela época, os coronéis eram os grandes proprietários rurais, com autoridade política e econômica na região.
Essa analogia se faz necessária nesse momento, pois, se a figura do coronel predominava na vida social da região, hoje, por incrível que nos possa parecer, eis que temos resquícios dessa era, onde o “patrão”, o “padrinho” de casamento, o “padrinho” de batismo se sentiam donos do voto. No final das contas, todos tinham alguma relação com o coronel e deviam favores e obediência às suas determinações.
Em Ilhéus, essa prática da compra de votos ou troca por bens materiais não pode ser tolerada, esse tempo não pode ser revivido e ser praticado sem uma retumbante indignação. Com tantas informações disponíveis, não se pode fechar os olhos para essa nefasta maneira de fraudar as eleições. O eleitor trocava seu voto por um favor, como um bem material (sapatos, roupas e chapéus) ou algum tipo de serviço (atendimento médico, remédios, verba para enterro, matrícula em escola, bolsa de estudos).
Vamos permitir que tal pratica seja continuada? Vamos fechar os olhos a quem propaga ter votos por acreditar na necessidade de comunidades e carências sociais para despejar dinheiro contado e envelopados em mesas por quem ri de nosso voto? Não percebem quem assim acredita e age, que nosso povo é digno e dará a resposta no dia 07 de Outubro. Que chegou a vez de quem, por sua vez, não aceitará vender seu voto livre por pequenos interesses, por promessas particulares dos oligarcas aos pobres, e ameaças a empregados locais, “garantidas” por violências de quem tem um mandato representativo de seu mandante, o eleitor, será leal sim, mas a sua consciência e a sua dignidade, por uma cidade livre de desmandos, uma câmara estadual livre, com deputados livres e que respeitem o cidadão livre, e que esse livre que insisto em dizer, venha do voto livre de medo.
Lucio Gusmão – Historiador; Professor de História, Filosofia e Ciência Política, com especialização em História Social, Econômica e Política do Brasil
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